A reescrita literária como lugar de fala e as demandas infantis no enfrentamento à subalternização: relato de uma experiência pedagógica
Keywords:
Geografia das Infâncias, Reescrita Literária, Demandas Estudantis, Minorias, Ferramentas AfirmativasAbstract
O presente trabalho é um relato de experiência pedagógica que aponta algumas demandas oriundas de crianças durante o processo de escolarização (quinto ano do ensino fundamental) acerca de temas considerados tabus sociais e que comumente são ignorados ou silenciados pela escola e/ou família e que de outra parte vêm sendo amplamente debatidos entre pesquisadores no meio acadêmico e entre os movimentos sociais das minorias. São reflexões que partem de questões levantadas pelos estudantes durante minhas práticas pedagógicas como professor de teatro de uma escola pública do Distrito Federal no ano de 2017 e que se fizeram presentes em um texto dramático escrito coletivamente, “O casamento da Dona Baratinha, só que não”.
Entre os assuntos levantados pelos estudantes estão os processos de inclusão e exclusão de determinados grupos sociais subalternizados, tais como: as mulheres, as LGBTQIA+ e os negros. A ideia que se pretende evidenciar é a de que as crianças, cada vez mais cedo, têm tentado afirmar seus espaços sociais e, à sua maneira, têm buscado ferramentas afirmativas frente às opressões que sofrem por se perceberem inseridas em grupos socialmente marginalizados, inclusive na instituição escolar.
Ao tomar em conta que tais exclusões, em quase sua totalidade, são promovidas por uma elite intelectual branca, heterossexual, patriarcal e cristã, que insiste em tentar perpetuar valores conservadores e negar as diferenças, o presente ensaio se propõe a evidenciar as discussões sobre espaço e territórios na geografia, que se fazem presentes na geografia das infâncias, a fim de refletir sobre dois termos presentes na perspectiva dos estudos pós-estruturalistas e decoloniais: sujeito e objeto, além de articular seus significados com a prática de reescrita literária no contexto escolar como ferramenta de enfrentamento e resistência aos sistemas excludentes e opressores. Nessa proposta, para efeito de análise, toma-se como corpus as legislações que amparam a discussão dos referidos temas no currículo escolar, autores da geografia que versam sobre espaço, território e geografia das infâncias e textos de autores que têm discutido temas referentes às minorias de maneira ampla em interlocução com autores que especificamente no meio literário abordam as mesmas ideias. São eles: Jader Janer Moreira Lopes, Maria Lidia Bueno Fernandes, Doreen Massey, Milton Santos, Lizandro Carlos Caligari, Hannah Arendt, Michel Foucault e bell hooks.